O que é Celas de aula?

Este blog tem por objetivo detalhar minha experiência como professora de uma unidade da Fundação Casa em São Paulo (antiga Febem)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

(In)tolerância 2

Falar de tolerância a alteridade numa cela de aula foi estranho. Me parecia não ser chão propício para cultivar o que gostaria, mas fui levada a ele, não tive escolha.

Falávamos de ditadura, também a partir de uma pergunta de um aluno: "Psôra, é verdade que a Dilma é bandida?" Para responder fui primeiro falar sobre ditadura, regime militar, tortura (um tema meio tenso para o lugar, as vezes tenho a nítida impressão que ainda há resquícios deste tempo...).
Olhos atentos, muitas perguntas, muitas opiniões, muita imaginação. Um aluno me disse que via uma novela do SBT que trata do tema, outro já logo falou que viu um beijo entre duas mulheres nesta novela. Não resisti! Tinha a faca e o queijo na mão! Não poderia "amarelar" naquele momento! Então contei para eles que esta novela exibiu o primeiro beijo gay da televisão brasileira. O circo estava armado! Foi despejado alí todo tipo de ideia preconceituosa e até covarde frente ao (in)toleravél por eles.

O solo foi mais fértil que o imaginado! Falamos de preconceito racial, de preconceito pelas tatuagens, de ser preso carregar esta marca. Cada um contou um exemplo (até o agente penitenciário que quando vi já estava assistindo aula e participando!), uns tristes, dolorido de ouvir, outros carregados de bom humor, outros de imaginação. Contei para eles o tipo de reação que causa nas pessoas eu ser professora na Febem, eles não gostaram de ser "vítimas"do preconceito do "mundão"(nome dado por eles para tudo que fica além na cadeia)

 Depois de rir, discordar, opinar, até debater calorosamente, fiz uma pergunta: "e se eu contasse para vocês que sou gay? E se eu não tivesse marido e sim um esposa? Eu seria pior professora por isso? Eu não seria digna de respeito de vocês?

Senti que meu recado foi dado! Que sensação maravilhosa! Quase ouvi a "ficha cair"na cabeça de alguns! E para terminar com chave de ouro, fui para casa com um sonoro: "vou pensar nesta aula" de um aluno que tem 22 anos, teoricamente ele já não devia estar lá, porém ele aguarda a parte burocrática.






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